Para beber num sábado à noite.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Do Amor
Não falo do amor romântico,
aquelas paixões meladas de tristeza e sofrimento.
Relações de dependência e submissão,
paixões tristes.
Algumas pessoas confundem isso com amor.
Chamam de amor esse querer escravo,
e pensam que o amor é alguma coisa que pode ser definida,
explicada, entendida, julgada.
Pensam que o amor já estava pronto,
formatado, inteiro, antes de ser experimentado.
Mas é exatamente o oposto, para mim,
que o amor manifesta.
A virtude do amor é sua capacidade potencial de ser construído,
inventado e modificado.
O amor está em movimento eterno, em velocidade infinita.
O amor é um móbile.
Como fotografá-lo?
Como percebê-lo?
Como se deixar sê-lo?
E como impedir que a imagem sedentária e cansada do amor não nos domine?
Minha resposta?
O amor é o desconhecido.
Mesmo depois de uma vida inteira de amores,
o amor será sempre o desconhecido,
a força luminosa que ao mesmo tempo cega e nos dá uma nova visão.
A imagem que eu tenho do amor é a de um ser em mutação.
O amor quer ser interferido,
quer ser violado,
quer ser transformado a cada instante.
A vida do amor depende dessa interferência.
A morte do amor é quando, diante do seu labirinto,
decidimos caminhar pela estrada reta.
Ele nos oferece seus oceanos de mares revoltos e profundos,
e nós preferimos o leito de um rio,
com início, meio e fim.
Não, não podemos subestimar o amor não podemos castrá-lo.
O amor não é orgânico.
Não é meu coração que sente o amor.
É a minha alma que o saboreia.
Não é no meu sangue que ele ferve.
O amor faz sua fogueira dionisíaca no meu espírito.
Sua força se mistura com a minha e
nossas pequenas fagulhas ecoam pelo céu
como se fossem novas estrelas recém-nascidas.
O amor brilha.
Como uma aurora colorida e misteriosa,
como um crepúsculo inundado de beleza e despedida,
o amor grita seu silêncio e nos dá sua música.
Nós dançamos sua felicidade em delírio porque somos o alimento preferido do amor,
se estivermos também a devorá-lo.
O amor, eu não conheço.
E é exatamente por isso que o desejo e me jogo do seu abismo,
me aventurando ao seu encontro.
A vida só existe quando o amor a navega.
Morrer de amor é a substância de que a Vida é feita.
Ou melhor, só se Vive no amor.
E a língua do amor é a língua que eu falo e escuto.
Por Paulinho Moska
Imagem Woodstock
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Sempre
Eu te contemplava sempre
Feito um gato aos pés da dona
Mesmo em sonho estive atento
Para poder lembrar-te sempre
Como olhando o firmamento
Vejo estrelas que já foram
Noite afora para sempre
O teu corpo em movimento
Os teus lábios em flagrante
O teu riso,o teu silêncio
Serão meus ainda e sempre
Os teus lábios em flagrante
O teu riso,o teu silêncio
Serão meus ainda e sempre
Dura a vida alguns instantes
Porém mais do que bastantes
Quando cada instante é sempre
Porém mais do que bastantes
Quando cada instante é sempre
Por Chico Buarque de Hollanda
segunda-feira, 22 de março de 2010
Dizem que
gatos têm sete vidas, mas o meu só precisa de uma. Que ambições têm um gato? O
meu ambiciona cuidados, um amor confortável e comida farta. Gato gosta de casa
e, por esse motivo, construí em mim alguns cômodos só pra ele passear com seus
passos mansos e nada leves. Deixou de tomar leite e me bebe aos goles. Mergulha
num banho de língua e passa horas com a língua de fora, limpando suas palavras
nas minhas reticências. Lambe naquela categoria como manda o figurino. Na hora
de pedir carinho, esfrega seu corpo nas minhas pernas e no momento que quer
atenção, mia forte, mia tão forte, que confundo com latido. Todo gato tem a
dona que merece, e o amor que a patroa sente por ele, é contra-indicado caso
não haja adrenalina. Gato que gosta de ser jogado pra cima só pra cair com as
quatro patas no chão. É, o frio na barriga faz parte da emoção sem medida que
gosta de sentir. Gosto de ver meu gato reagindo às emoções e coloco no pires
sensações líquidas. Ele acompanha meu raciocínio com uma simples olhada e me
segue só por causa do meu cheiro. Gato mimado, cheio de vontade... estraguei o
gato, será?
Do meu gato cuido eu.
Autor Desconhecido
Ilustração por Lukaluka
sexta-feira, 19 de março de 2010
Da Fuga
Perdi-me muitas vezes pelo mar,
o ouvido cheio de flores recém cortadas,
a língua cheia de amor e de agonia.
Muitas vezes perdi-me pelo mar,
como me perco no coração de alguns meninos.
Não há noite em que, ao dar um beijo,
não sinta o sorriso das pessoas sem rosto,
nem há ninguém que, ao tocar um recém-nascido,
se esqueça das imóveis caveiras de cavalo.
Porque as rosas buscam na frente
uma dura paisagem de osso
e as mãos do homem não têm mais sentido
senão imitar as raízes sob a terra.
Como me perco no coração de alguns meninos,
perdi-me muitas vezes pelo mar.
Ignorante da água vou buscando uma morte de luz que me consuma.
Por Frederico Garcia Lorca
Imagem: Fotógrafo Desconhecido.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
É mais fácil amar o retrato. Eu já disse que o que se ama é a ‘cena’.
‘Cena’ é um quadro belo e comovente que existe na alma antes de qualquer
experiência amorosa. A busca amorosa é a busca da pessoa que, se achada, irá
completar a cena. Antes de te conhecer eu já te amava.E então,
inesperadamente, nos encontramos com rosto que já conhecíamos antes de o
conhecer. E somos então possuídos pela certeza absoluta de haver encontrado o
que procurávamos. A cena está completa. Estamos apaixonados.
Por Rubem Alves
Fotografia de Nan Goldin
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